
Afinal, quando amadurecerás? Perguntaria o velho sábio ao jovem ainda cheio de certezas e verdades retilíneas, próprias de um pensar altivo. E chato. Mas, obviamente, nem toda velhice é sábia, e nem toda juventude é tola. E também, nesta atualidade – e cá entre nós-, sabedoria para quê, este conceito, para muitos, carcomido, sussurraria o quarto dos fundos.
Por opinador, imagina-se o sujeito com um baú portátil de opiniões, pronto para qualquer embate. Ou guerra. Já disseram que se conselho fosse bom era vendido. Já ‘opinião’, na ciência, vale nada. Isabelle Stangers sentencia: ‘a razão científica avança quando diz não à opinião’. E Gaston Bachelard, há quase um século, ensinava: ‘a ciência opõe-se absolutamente à opinião… Não se pode basear nada na opinião: é preciso destruí-la.’
Pelo lado do autoritarismo, vê-se um desejo, volúpia mesmo. De vencer, derrotar e se impor. Cessa o interesse reflexivo no diálogo, que sempre tem a ensinar e aprender. Entra sempre uma contestação às pressas, em o que filósofos chamarão de diálogo erístico, uma disputa, o interlocutor como inimigo. Bem coisa de uma intelectualidade empobrecida.
Correndo por fora, aparece algum positivismo, não em sua principal característica, a romantização da ciência, no sentido de único conhecimento válido, mas uma forma atualzinha, conhecida como ‘lacração’. Quem opina voraz e com certezas, invariavelmente é um positivista, amador, mas é.
Composto o refogado mental dos três temperos acima e se terá uma produção infinita de absolutividades sobre tudo e qualquer coisa. E instantânea, sem qualquer tempo de maturação neuronal para escolher, minimamente, uma versão ou fundamento menos pior. Nosso opinador inveterado questionará olímpico: razoabilidade para quê, se eu posso pensar às pressas e aos trancos, e derrotar às pressas e aos trancos?
A díade velho-moço sequer existe como garantem cartesianos malandros de uma velharia interessada em manter soberanias de sapientismos etários. Não ter morrido jovem não garante diplomação de conhecimento qualificado. O que estes sabem muito bem é invocar ranços epocais para sustentar a tralha conservadora – e invariavelmente reacionária- do ‘antigamente é que era bom’. Reacionários são sempre tão fáceis, e previsíveis.
Não há hierarquias etárias. Jovens e velhos, em conhecimento, disputam em igualdade de condições pela produção intelectual e científica. Cada um que exponha sua produção, e melhor que seja real e verdadeira. Einstein, já velho nos Estados Unidos, foi desafiadoramente questionado por um aluno-pré-yuppie-sem-nome, acerca de ‘onde’ seria o seu laboratório, a que o cientista meramente puxou a caneta do bolso e respondeu: aqui.
Talvez esta segunda pós-modernidade dândi tenha facilitado coisas com a prática do opinatismo desvairado. Muitos acham que basta demonstrar firmeza nas assertivas orais, aliada a um semblante de austeridade, que elas se convertem, automaticamente em … conhecimento. Outros acreditam que a frenética atividade de reenviar vídeos de Youtube e WhatsApp, utilizando a inteligência de dedo, que digita, faz nascer um intelectual. Só rindo.
Seria uma paráfrase requentada de um ‘diga-me o que produzes e eu direi quem tu és’, autoritarismo maniqueísta de antigamente, usado preconceituosamente para ‘conhecer’ pessoas. Ou seria discriminar? Mas a produção intelectual ou científica, chata, pensada, escrita e publicada ainda é parâmetro razoavelmente válido. Isto se não espetacularmente falsificada pelas inteligências artificiais.
O engodo ficou cada vez mais acessível, seja ao estelionatário criminal, seja ao do conhecimento, com suas certezas e absolutividades. Por outro lado, toda e qualquer produção digital ou de qualquer forma é válida, como e a que se proponha, seja a verdadeira, a falsária, a lúdica, a comercial, a sem-vergonha e cínica e o que mais se supuser. Basta apenas não se confundir joios com trigos.
Marx reclamou que filósofos limitavam-se a interpretar o mundo de diferentes maneiras, mas o que importava era transformá-lo. A atualidade fora do conhecimento continua a ser uma vala em que nem se interpreta, nem se muda, apenas segue.
Jean Menezes de Aguiar.
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