
Schopenhauer, um dos malditos favoritos, ensina que uma das melhores ‘qualidades’ do homem seria sua baixa relação social. Ou, se se quiser as palavras do filósofo: ‘O que torna um homem sociável é sua pobreza interior’, Aforismos, p. 34.
É claro que um pensamento assim não é para qualquer mortal que se julgue superior, desses que vivem espumando certezas e absolutividades orais – sempre orais, esses não escrevem nada, zero, não teorizam nada, não produzem nada-, só copiam e colam em redes sociais.
O fato é que em épocas trágicas de ‘lacração’, conversar com ‘qualquer um’ – sim, com aspas-, pode ser perigoso. Ou frustrante. O mesmo filósofo diz que a turba só tem olhos e ouvidos, p. 64. O problema é o ‘só’; ele é literal e paralisador. Isso será o que basta para a formação de pensamentos desastrados, preconceituosos e arrasadores.
Há os proprietários de automóvel, com alguma roupa de grife e TV a cabo em console, em casa. Talvez aí estejam três condições sociais mínimas para o enlouquecido certificador social atual, o que espuma certezas e soluções fáceis para qualquer problema histórico ou secular de uma sociedade. O atalho do simplismo extremo, aliado a teorias da conspiração são exemplos da estultice pandêmica que assola o país.
Conversar com uma criatura dessas acaba sendo um risco à saúde mental, ou apenas psicológica ligada à felicidade. Esses seres descartam enciclopédias, saberes, ciências e estudos, não propriamente com a maldade dos cruéis, mas com a estapafurdice dos idiotas. E se você insistir com argumentos e lógicas, conhecimentos, sistemas e saberes, será humilhado e derrotado, não por um saber superior, mas pela sanha do pensamento vitorista, o que só sabe se relacionar derrotando, vencendo o outro, ou, o ‘inimigo’.
Mil vezes o idiota lhe achar idiota, porque você se calou estrategicamente perante ele, do que você se achar um tolo porque aceitou entrar num redemoinho antropofágico da aniquilação do seu próprio saber, permitindo que o idiota o ‘testasse’: – então diga, responda, quero ver se você sabe! Desafia nosso olímpico ogro do depósito da garagem. E pior, ele mesmo será o que lhe reprovará na Admissão, sem direito a segunda época, com um zero absoluto e um riso de triunfo.
É trágico não ‘poder’ conversar, por medos psicanalíticos – finjamos que seja isso e não a barbaria da ignorância comissiva e danosa- de uma ofensa a seu próprio esforço de vida, de ter estudado, se preparado, e aí, um ser intelectualmente tosco qualquer não ter capacidade de admirar minimamente o conhecimento do Outro, apenas o umbigo ideológico dele próprio e de seus mancomunados na sanha.
O filósofo Peter Sloterdijk (Crítica da Razão Cínica) ensina que ‘não se pode tentar convencer certos adversários: há um álibi da ausência de compreensão’. Triste ausência que consegue tantos votos de incautos.
Já Ernest Hemingway (O Sol Também se Levanta) aconselhava “você tem que ser irônico desde a hora em que sai da cama”. A situação é seriíssima e colérica para os odiadores que se impuseram derrotar a conspiração lunática. Mas chega a se tornar suavemente cômica se você conseguir sorrir da estupidez, certamente majoritária, com a ironia hemingwayniana e a certeza que esses aí param de ler qualquer ‘texto’ na metade do segundo parágrafo.
Jean Menezes de Aguiar
Categorias:Cidadania online, Filosofia