Flávio Damm apadrinha a fotografia do OBSERVATÓRIO GERAL

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Flávio Damm

O entrevistado hoje é ninguém menos que Flávio Silveira Damm (Porto Alegre, 1928) que aceitou apadrinhar o espaço fotográfico do OBSERVATÓRIO GERAL. Veja galeria de fotos abaixo. Um dos maiores fotógrafos brasileiros, Damm começou sua carreira como auxiliar de laboratório do fotógrafo alemão Ed Keffel, que se refugiou do nazismo em Porto Alegre, durante a 2a Guerra (1939-45). Foi fotógrafo da Revista do Globo, em 1946. Obteve a consagração profissional no ano seguinte, ao realizar as primeiras fotografias de Getúlio Vargas em sua fazenda após seu afastamento da presidência da República, o que lhe valeu um convite para integrar a equipe da revista O Cruzeiro, no Rio de Janeiro. Trabalhou ali durante uma década e meia, tornando-se um dos mais importantes fotojornalistas brasileiros. Teve papel fundamental como um dos fundadores da agência fotográfica Image, em 1962, uma das primeiras do gênero no país. Publicou os livros Brasil Futebol Rei, 1965; Bahia Boa Terra Bahia, 1967; Ilustrações do Rio, 1970; Um Cândido Pintor Portinari, 1971; Pernambuco Sim, 1974 e Fotografias de Flávio Damm, 1990. Já há muitos anos mora no Leme – Copacabana-, Rio de Janeiro, próximo à Fiorentina e ao Sindicato do Chopp, um cenário praiano privilegiado que certamente se orgulha de ter uma figura tão especial como Flávio Damm. O artista nos recebeu em sua casa e aceitou ser fotografado, tarefa das mais difíceis para o OBSERVATÓRIO GERAL: passar pelo juízo crítico do próprio Flávio Damm, em termos de fotografia. Abaixo o bate papo com o fotógrafo, agora Padrinho do espaço fotográfico do OG.

OBSERVATÓRIO GERAL – O que você tem feito atualmente em termos de fotografia além de artigos e entrevistas em revistas especializadas? Fale um pouco de você.

Flávio Damm –  Fotografo diariamente, não saio de casa sem minha LEICA munida de filme 400ASA. Sempre na (boa) expectativa de ter alguma sorte e  minha paciência aflorar para  aplicar o  que tenha de aprendizagem.

OBSERVATÓRIO GERAL – Você deve compor com Sebastião Salgado, Evandro Teixeira e alguns outros de sua geração um seleto grupo de fotógrafos profissionais de elite que representam no Brasil o fino desta arte. Na sua visão, que nomes completariam esta seleção?

Flávio Damm – Custódio Coimbra, Márcia Foletto e um amador  (de Porto Alegre) chamado Thierry Rios.

Observatório geral – Você acha que houve, paralelamente à revolução da tecnologia – do mecânico para o digital -, também uma revolução no olhar e na mão do fotógrafo? Ou a arte em si se manteve sem um salto tão visível? Pode-se dizer que com o digital deu-se uma “nova arte” ao lado de toda a tecnologia nova?

Flávio Damm – Arte eu não ousaria dizer, deu um salto na velocidade de comunicação entre o instante do fazer a foto e ver o resultado.  Mas matou muito na criatividade e na valorização do trabalho: ficou fácil o que era mais produto de sorte, paciência e talento, os  três componentes básicos para a boa fotografia de momentos únicos.

OBSERVATÓRIO GERAL – Cannon x Nikon: dá para se afirmar que a diferença na fotografia antiga já foi “maior” com uma famosa divisão de marcas assim, e com o advento da fotografia digital essa diferença praticamente sumiu? Conte para nós, você é Cannonista ou Nikonista, esta guerra é antiga não é?

Flávio Damm – Não sou nem uma nem outra, uso LEICA desde 1946, com interrupção na Rolleiflex por imposição da limitação de laboratórios para tratamento do 35mm nos anos 50 em 60. Uso acidentalmente Nikon  F70 pela facilidade de uma lente “zoom. Atualmente uso uma Leica M2 com lente 50mm., com seus 45 graus de abertura,  esta idêntica à visão humana, a lente “normal” e uma LEICA MINILUX, compacta com lente “zoom” Vario/ELMAR, de  35 as 60mm. Também, claro, analógica.

OBSERVATÓRIO GERAL – Seu trabalho, principalmente nos diversos livros editados é, salvo engano, quase todo em preto e branco, além do fato de parecer que você gosta da rua, do cenário urbano, a casualidade, em vez de estúdio e da luz artificial. Como você interpreta essas diferenças no profissional, elas devem compor um estilo do fotógrafo ou ele precisa ser um coringa que se saia bem em todos os estilos?

Flávio Damm – Só fotografo em Preto e Branco. Acidentalmente, fiz cor quando ilustrei um livro (com Jorge Amado), o “Bahia Boa Terra Bahia”  com capa a cores e uma foto de culinária. Não uso artifícios, luz artificial, tripé nem teleobjetivas. Eugene H. Smith dizia que a  verdade é em P&B. Não uso estúdio, uso a rua: não faço nu nem foto posada. Faço por acaso, retrato de quem nunca foi fotografado na vida, gente de rua. Fotografia não vive de milagres tecnológicos, vive da verdade do dia a dia.

Observatório geral – Quais são as grandes instituições de fotografia no Brasil hoje – academias, institutos e entidades, que contribuem para a arte, apenas um apanhado geral? E é possível visualizar grandes “escolas autorais” distintas no país, no sentido de quem está fazendo o quê? Nu, fotojornalismo, paisagem etc.

Flávio DammNão vejo isto, há o “fazer fotografia”. Não creio  em escolas que ajudem muito no que demanda talento, creio na boa aprendizagem pela prática.  Leitura de bons autores, frequência  a museus de arte, familiaridade com a composição de Chagal, a audácia de Da Vinci, vivenciar os pintores impressionistas.

Observatório Geral – como você vê a “evolução” do nu no último século; saímos de uma repressão artística pesada sobre o corpo para uma liberação praticamente infinita; o esgarçamento estético sobre o corpo impôs uma obviedade artística, ou a liberdade da arte tinha mesmo que conquistar todos os ângulos e dobras do nu?

Flávio Damm – Não entendo de nu fotográfico, o que vejo, em geral é ruim, gratuito, apelativo.

OBSERVATÓRIO GERAL – Para fechar, estamos convidando você para apadrinhar a nossa seção de fotografia do OBSERVATÓRIO GERAL que, todavia, não é um site especializado na arte, mas tem um apreço e um respeito infinito por ela. Sendo assim, sempre que quiser o espaço será efetivamente seu,  como é este espaço aqui agora para dar de presente para o OG algumas palavras que você considere importantes. Temos certeza que esta entrevista será repercutida em sites especializados e tê-lo conosco será a nossa Grande Honra.

Flávio DammHonra minha, agradeço a oportunidade, vou usá-la, me aguardem….  E aproveito  para citar – e incorporar isto ao ato de fotografar –   o gênio Michelangelo Buonarroti,   pintor do teto da Capela Sistina, no Vaticano, que, há cinco séculos,  quando perguntado como produzia, tão belas obras de arte respondeu: quando olho um bloco de mármore vejo a escultura dentro, tudo o que tenho que fazer é retirar as aparas”… Modestamente, conhecendo o meu lugar,  proponho a lembrança  da lição de Michelangelo no ato de fotografar: as cenas existem, o que é preciso é ter o olho pronto, praticando  o ato mágico de então  fotografar… Só isto.

OBSERVATÓRIO GERAL, Rio de 26.set.2013.

A arte de Flávio Damm.

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