O provincianismo de se xingar o presidente

 

médico xingador

Imagem BRASIL 247

 

O tema não é novo entre observadores da política brasileira. Presidentes da República são historicamente xingados e ridicularizados sob um misto de algo como ódio vulgar invejoso e projeção de personalidade imbecil.

A ‘inveja’ parece ter ficado bem nítida, por exemplo, na era Lula. Não seria por ele ‘ser’ o presidente. Mas, como diziam muitos que ‘possuíam’ curso superior, por ele ‘nem’ ter curso superior. Ou outros ainda que não tinham o tal curso e então não queriam ser ‘governados’ por um ‘qualquer’. Para estes, sem o tal nível superior. É uma crítica primária. É a previsibilidade do provincianismo discriminatório.

Adorno e Horkheimer (Dialética do esclarecimento, p. 173) tratam da tragédia que foi a ‘superioridade bem informada’ na época nazista. Dizem: ‘Quantos não foram os argumentos bem fundamentados com que os judeus negaram as chances de Hitler chegar ao poder’.

É a soberba de querer ‘manter’ Lula torneiro mecânico. Um verdadeiro prazer social desses ‘superiores bem informados’ em gargalhar nos salões e galerias perfumados.

Agora, um novo episódio de ódio explícito, envolvendo inclusive violação profissional à medicina. O médico gaúcho Milton Pires escreveu no Facebook sobre a queda de pressão de Dilma Rousseff no último debate: “Tá se sentindo mal? A pressão baixou??? Chama um médico cubano, sua grande filha da puta!”

Teria querido dizer, o ‘doutor’, que se pudesse, como médico, a deixaria morrer? Triste a manifestação de um médico diante de um mal estar alheiro. ‘Mesmo’ que de Dilma, pessoa que ele não ‘gosta’.

A manifestação é livre e garantida, está na Constituição da República. Não a ofensa, que, juridicamente, pode gerar responsabilidades civis e criminais para qualquer um. Mas, releve-se o legalismo de leis e códigos, e dane-se a ofensa. O que chama atenção é a jactância pessoal da intolerância ruminada. E o ódio ofensal que parece estar recrudescendo nas entranhas da sociedade internetiada.

Intelectualmente, percebe-se, não há grandes diferenças entre esse ‘doutor’ e sua conterrânea, a que ficou conhecida como ‘racistinha’ que xingou o goleiro Aranha, do Santos, de ‘macaco’. Não é porque este aí é médico que se vai exigir uma cabeça organizada à não ofensa preconceituosa, ao não ódio. Tanto é assim que ele babou seus problemas e desejos.

Presidentes brasileiros foram a vida toda retratados e caricaturizados como asnos, jumentos, burros, cavalos, hipopótamos, antas e outras espécies semanticamente ridicularizadas do reino animal.

Parece haver essa sanha social brazuca. Este é o nosso útero antropofágico. Votamos, mas não queremos o eleito. Não é assim noutros países em que a figura do presidente é até protegida. E não se venha, de novo, com o provincianismo de que os nossos são mesmos imbecis autênticos.

Para quem se derrete com Aécio, que ainda não foi presidente, se vier a ser, não escapará da mania.

Atrás de ser favorável ou contra um ou outro candidato ou presidente, há o ódio nítido, a ofensa, a discriminação e a intolerância. A sociedade brasileira tem dado tristes mostras disso. Foi assim com os médicos cubanos xingados e humilhados até o osso, com negros, gays, travestis e presidentes. Mas também é assim nas escolas com nossos filhos e com qualquer um.

Os médicos sempre foram queridos pela sociedade. Contrariamente aos advogados que despertam ódios profissionais imensos, por exemplo, nas portas dos tribunais de júri com uma horda berrando ‘justiça!’ e querendo bater nos defensores. De qualquer forma, o ódio não é um superproduto da inteligência. Em casos como estes aí, é uma manifestação humana baixa e triste. OBSERVATÓRIO GERAL.

 



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3 respostas

  1. Muito boa reflexão.

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