A poesia, o sentimento e a sonoridade dos nomes femininos pelo sonho amoroso de Adamo Prince. De Adriana a Vilma; de Bianca a Taís. A devoção às meninas da vida praiana no Rio de Janeiro do violonista. Ache o seu nome e lembre se alguém já pensou em você deste jeito lírico. Pode estar aí um bom motivo para perguntar à sua pessoa preferida se já… OBSERVATÓRIO GERAL.
Acorrentou-me o amor com fortes laços.
Debato-me e tento, mas em vão,
Romper os nós – as correntes de aço.
Inútil o esforço. Frustra-se a intenção.
A razão bem quis guiar meus passos;
Não conseguiu dobrar meu coração.
Adejo, mas acabo nos teus braços.
A insólita paixão que me domina
Levou-me a transgredir a natureza:
Imprudentemente e sem clareza,
Cedi aos teus caprichos de menina.
E de vil predador, passei à presa.
A solidão é o fardo mais pesado:
Largo deserto nesta vida breve.
Insensatez querer-te? Quem se atreve
Negar que ao amor nada é vedado
Estando ao teu lado, tudo é leve.
Aquele beijo que fiquei querendo
Não pôde encontrar a tua boca.
A dor que estou sofrendo não é pouca!
Alvorece! Há luz, enfim!
Um canto de cotovia
Ressoa pelo jardim.
Oureja a orla do dia.
Rutila e já principia
A arder teu sol sobre mim.
Brincando de querer me apaixonar,
Escapuliu-me a corda do brinquedo.
Tento, e não consigo controlar.
Agora estou com medo… Estou com medo…
Brilhantes, duas luzes cristalinas,
Irradiam-se dos olhos teus!
A misericordiosa mão de Deus
Notou que eram densas as neblinas.
Colocou estrelas pequeninas
A guiar os vagos passos meus.
Bravia paixão! Em meu caminho,
Repetidas vezes acontece
Um fato que me faz sozinho:
Na hora em que de ti me avizinho,
A voz se cala. A boca emudece…
Chegaste com a primavera, amor.
Amplias a beleza da estação:
Rosa que com as rosas vem compor
Iluminada alfombra multicor
Num pálido e opaco coração.
Abriu-se em meu deserto linda flor!
Conhece-se o valor do navegante
Após a travessia da tormenta.
Ríspida amargura já fomenta
O coração cativo qu’inda tenta
Livrar-se de um amor tão inconstante.
Inútil tentativa. Não aguenta.
Nauseia o marinheiro, arquejante.
Ah! Tão pouco vales, pobre amante!
Calei-me a vez primeira que te vi,
Ávido que estava de desejo.
Tentei dissimular o que senti:
Impulso de roubar-te aquele beijo.
Agora, nem te falo e nem te vejo…
Céu cinzento. Atrás da nuvem gris
Esconde-se o sol do sentimento.
Lívido da cor, o firmamento,
Esmaece. Fica sem matiz.
Sombrio coração… É infeliz…
Tu desconheces o meu sofrimento
E a dor que tu não vês, nada te diz.
Caminho… E por sobre a terra escura
És o meu céu. E do teu sol, dourada,
Límpida, de tão profunda altura,
Incide sobre mim, intensa e pura,
A luz, iluminando minha estrada.
Com a força do amor, me enfraqueço.
E frágil, necessito de arrimo:
Longe dos teus braços, esmoreço.
Inflamo se de ti me aproximo.
Na chama dos teus olhos, fortaleço.
A cada ausência tua, desanimo.
Confuso em meio às trevas, cegamente,
Levava minha dor, sempre sozinho.
A mão que tateava incertamente,
Resvalou na tua. E de repente
A luz, enfim, surgiu em meu caminho.
Contemplo-te, tão meiga e graciosa.
Logo voa alto o pensamento –
Águia predadora contra o vento
Uivante, lígera e ardilosa.
Decerto tu não podes, no momento,
Imaginar-lhe a rota tortuosa.
Ah! Mas imaginas meu tormento?
De antes de conhecer-te
Era teu meu pensamento.
Intuindo o sentimento,
Sonhava-te. E por saber-te,
Esperei pelo momento.
Driblando este mundo enfadonho,
Entrego-me ao sonho, extasiado,
Nas noites em que a sonhar me ponho.
Inverter-se-ia o tédio, o enfado,
Se a triste realidade fosse o sonho
Em que te sonho. E vejo-te ao meu lado.
Estrada que não leva a nada,
Leva-me… Não tenho aonde chegar.
Inútil procurar? Sigo a jornada,
Acreditando que vou te encontrar,
Na beira do caminho, em algum lugar.
E vai-se a noite… E vai-se a madrugada…
Fome de viver é o que sinto,
E sede de amar todo o momento.
Reclama o meu ser faminto
Notando o coração sedento.
Atende a quem te pede o alimento.
Na fonte do teu ser, clara nascente,
Dá-me de beber avidamente.
Acaba com esta sede, este tormento.
Faz parte da vida sonhar!
Inventei um amor pra mim
Levando minh’alma enfim
Onde há tudo por começar.
Meus olhos estão brilhando…
E só te peço: por Deus,
Não queiras vê-los chorando
A falta dos olhos teus.
Há em mim um pobre sonhador
Enfeitiçado pelos teus venenos.
Lendo, nos teus olhos tão serenos,
Estava escrita minha própria dor.
Não posso mais fugir do teu amor…
Apresam-me teus trejeitos morenos.
Incríveis são as formas que o destino
Norteia-nos ao que está traçado.
Girei já pelo mundo em desatino.
Rodei vários países, peregrino,
Induzindo a própria sorte, o fado.
De repente, por acaso, me fascino!
Inclinado a viver na solidão,
Recluso em mim, triste prisão, sofria.
Entrada proibida é o que se lia
Nas esquinas do meu coração.
E entraste, sem saber, na contramão!
Insano coração trago no peito:
Zombou desta paixão que o devora.
Agora chora? Já não tem mais jeito!
Juntando cacos, nesta minha lida,
Abandonados pelo tempo, ao léu,
Chegaste como que vinda do céu,
Implementando a fé quase perdida.
Assim vieste, amor, já definida –
No mundo nem sei qual é meu papel…
Aqui estamos nós, por esta vida!
Já andei vagando mundo afora.
A alma inquieta e sem conforto,
Nas vãs paixões não encontrava um porto.
Enfim, eu não te amava como agora.
Juras-me amor. Será mentira?
A Terra se aquieta de repente!
Na Natureza, o ar sequer respira.
Impacto de ouvi-la. Nem suspira,
Cai em silêncio o mundo à minha frente.
E a dúvida me rói: será que mente?
Justo no momento em que não vemos mais saída,
Esforços já nos faltam para achar algum esteio.
Náufrago imprevisto de uma rota indefinida,
Inclinada ao erro, à desesperança, ao meio:
Fenda que se abre entre a própria morte e vida,
Entre o que jamais será e o que nunca veio.
Romper com tanta dor, só mesmo tu, querida!
Jamais imaginei que poderia
Um dia, despertar teu coração.
Sabia do amor, mas não sabia!
Sou sempre um aprendiz nesta lição.
Amor… Quem teria condição
Real de desvendá-lo com mestria?
Além de uma ilusão, da fantasia…
Lendo nos teus olhos meu destino,
Apavorei-me com a minha sorte:
Um dia, chegaria amor mais forte.
Roubar-te-ia. Dize: é desatino?
Antes me roubasse a mim a morte!
Louca esta paixão! E de tão louca,
Exila-se a razão. Que alto preço!
Dá-me por começo a tua boca
Amor, que o fim eu já conheço.
Leve, quase pluma, quase neve,
Etérea, quase breve, quase bruma,
Talvez um sonho apenas, coisa alguma:
Ilusão de amor que não se deve
Cair em tentação, em suma.
Insensato coração que se atreve
A te querer. E a dor que me consuma!
Meu mundo nos teus olhos se resume:
A terra, o céu, o mar, e todo o resto.
Refulge o sol por sobre alto cume,
Iluminando o antro mais funesto.
Amor, és minha luz; és o meu lume.
Morria a tarde, e o mar verde-cinzento,
Achou de imitar os olhos teus.
Rezei neste momento pra que Deus
Tivesse pena do meu sofrimento.
Amar é uma ventura, ou um tormento?
Noite de luar desesperado…
Ágata preciosa, clara e nua,
Derrama-se de luz, redonda, a lua.
Inflama o coração onde se encrua
A dor de um sonhador apaixonado.
Nasceu o dia. O mar, quase turquesa,
Arrebatou dos olhos teus a cor.
Rogo um só pedido ao Criador:
Afoga neste azul minha tristeza.
Na densa selva virgem do teu peito,
As garças, sobre as águas e folhagens,
Tranquilas, sobrevoam as calmas margens
Álveas de um rio, em amplo leito.
Logo me embrenhei pelas paragens
Inócuas. Nada à vista era suspeito.
Ah! Mas como iludem as imagens…
Ninguém creria, caso me atrevesse,
Em versos, exaltar tua beleza.
Logo pensaria quem os lesse:
Inventa este poeta, com certeza!
Numa alma tão pequena,
Onde por tanta saudade?
Erma solidão me invade –
Mórbida, me envenena.
Imploro, por caridade:
Aplaca esta dor. Tem pena!
O que ficou por ser dito
Leva, silente, um desejo.
Gagueja o coração aflito,
A cada vez que te vejo.
Peguei na tua mão por gentileza.
Ainda por educação, beijei.
Um dia, sem por que, de ti lembrei.
Lembrança que me traz a alma presa.
Achei que era tolice. Me enganei!
Raio de luz que na fresta da janela
Anuncia a bela tarde ensolarada,
Queira tocar o coração da minha amada.
Utilize a claridade que lhe é dada
E ilumine esta paixão tão minha e dela.
Luz do sol, não lhe peço mais nada.
Raros foram os breves momentos
Em que pude estar a sós contigo.
Nem sei como chamar os sentimentos:
Amor, paixão, receio do perigo?
Tudo que eu quero e não consigo?
A chance de findar os sofrimentos?
Rondam minhas noites tão vazias,
Imagens e lembranças vagas.
Trazem-me a ti. Vão-se as mágoas.
Afastam-se as sombras fugidias.
Regra para amar não se conhece.
O amor é imprevisível, e se acontece,
Guarda sempre em si um desafio.
É quando o coração se incandesce,
Radia-se de sol em pleno estio.
Irremediavelmente se arrefece
A cada ausência, e sente um calafrio.
Recordo-me de ti. Digo comigo:
Onde, pois que nada mais existe?
Sozinho, pela vida eu sigo triste…
A lembrança agora é um castigo?
Rompi com preconceitos e barreiras
Onde ninguém mais fora capaz.
Se é obra do destino? Tanto faz.
Eu te amei demais. E sem fronteiras!
Se tu me dissesses não?
Acho que morreria,
Morreria de desilusão.
Ar que me faltaria
No sopro do coração.
Trazer tamanha agonia
Ao peito, quem suportaria?
Sonho! Abro as asas da ilusão…
Elevo-me a ti. E se em verdade
Longe estás, não sinto a dimensão.
Mas cansam minhas asas. Volto ao chão.
Acordo! E como pesa a realidade.
Silêncio em tudo! O dia já é findo.
Humildemente, a lua a vem velar.
Em seu corpo tão alvo e nu, e lindo,
Incidem os claros raios de luar.
Luzem estrelas. As ondas sobre o mar
Aplacam-se. Um anjo está dormindo!
Semente delicada a da paixão…
Implantada em solo de ilusão,
Logo ramifica o grão latente.
Vai-se o tempo. Passa e não se sente.
Inocente, espreita o coração.
Até que o chão se rompe à sua frente!
Seduzem e envenenam meus sentidos
Os teus pequenos olhos tão ditosos.
Lânguidos suspiros dolorosos
Afloram-me do peito, enternecidos.
Não podem nem ouvi-los teus ouvidos:
Gritam como que silenciosos…
E sufocados morrem esses gemidos.
Sofre o coração porque ressente
O peso que lhe faz a tua falta.
Noite mal dormida novamente:
Insônia de querer-te de repente.
A bruma cai… A lua já vai alta…
Se eu pudesse… Se eu pudesse colheria
O pólen para o mel do amor.
Roubaria da tua boca em flor!
Ávido, num beijo a sorveria…
Infelizmente, é mera fantasia.
Amarga é minha vida – dissabor.
Sonho.E tudo posso quando sonho.
Um sonho é realidade por um triz.
E quando as minhas mãos nas tuas ponho
Levemente, sinto-me feliz.
Infelizmente é sonho… E nada fiz.
Teme o meu coração
Ante a beleza sem par.
Ímpar esta paixão –
Sonho de amor singular.
Tudo nesta vida é sem sentido:
Âmbar que no ar se desvanece.
Nada que há no mundo permanece
Infinitamente, por ter sido.
Ama, pois que tudo mais fenece.
Tão longe de mim o que eu queria…
Ao ver nos sonhos meus, e tão de perto,
Tudo aquilo que é tão incerto,
Ignoro a dor na fantasia.
Assim me junto a ti. E é só magia,
Neste calor de sol em céu aberto.
Ai de mim, na noite fria, se desperto!
Temo o que me possa acontecer
E não posso evitar o dissabor:
Logo que te vi, pus-me a sofrer.
Mas mil vezes a dor de te querer,
A não sentir o frêmito do amor.
Teu jeito morno de persuadir
Envolve o meu ser completamente.
Rejeita o pensamento a mente
E a razão se torna incoerente:
Simula e não consegue discernir.
Aceita o coração, que sente.
Você saiu devagar…
E uma dor entrou de repente!
Revezam o mesmo lugar
Amor e dor, dentro da gente.
Vivia por viver. Vida vadia.
Inverno de sentir a alma fria,
Largada ao ressentimento.
Mas bastou te ver, quer num momento,
As mágoas transformaram-se em magia.
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#adorável!