Uma história triste – espécies criticamente ameaçadas em Sumatra a caminho da extinção

tigre

Tigre de Sumatra no zoológico Taronga, em Sydney, Austrália. O habitat natural da espécie está ameaçado

[The Observer]. Animais silvestres criticamente ameaçados, incluindo alguns dos últimos tigres de Sumatra, assim como rinocerontes, ursos e águias, poderão ser eliminados se prosseguirem os planos de construção de uma grande rodovia através de uma floresta tropical na Indonésia, que está sendo restaurada por conservacionistas britânicos.

A estrada de 51 quilômetros, que permitiria que 850 caminhões de carvão por dia fossem exportados mais facilmente para usinas energéticas em todo o Sudeste Asiático, dividiria a floresta tropical de Harapan, licenciada pela Real Sociedade para Proteção das Aves (RSPB na sigla em inglês), com o apoio do governo britânico, do banco Co-op, da União Europeia e de amantes de pássaros do mundo todo.

A reserva de 98.555 hectares foi desmatada seletivamente na década de 1970, mas é considerada um dos lugares mais diversificados da Terra e uma prioridade global para a conservação de hábitats, pois contém 20% da floresta remanescente na ilha de Sumatra.

“Ela é tão rica em vida silvestre que pode ser descrita como um dos pontos quentes da biodiversidade mundial. Os animais encontrados na floresta incluem o tigre de Sumatra, o elefante de Sumatra, lontras, porcos-espinhos, ursos e tartarugas”, disse um porta-voz da RSPB.

“Mais de 300 espécies de aves procriam lá – incluindo colhereiros, águias, garças, papagaios, martins-pescadores e faisões raros. A flor raflésia, a maior do mundo, brota do chão da floresta, e uma enorme variedade de insetos também pode ser encontrada”, acrescentou.

A estrada do carvão teria mais de 50 metros de largura e levaria de um grupo de cinco grandes minas no sul de Sumatra até o rio Lalan, na província de Jambi. Ela removeria diretamente cerca de154 hectares de floresta tropical, mas poderia afetar muitos milhares mais, ao dividir a floresta em duas concessões fisicamente separadas, permitindo o acesso de caçadores e desmatadores ilegais e restringindo o movimento de animais e pessoas.

“Essa fragmentação aumentará a incidência dos acasalamentos intrafamiliares e poderá até causar a extinção dessas espécies. Isso é particularmente importante para a população de tigres de Sumatra, que consiste em apenas 12 a 20 indivíduos e é uma preocupação de conservação internacional”, disse a RSPB, que administra a concessão com a Birdlife International e o grupo de proteção às aves da Indonésia Burung.

O tigre de Sumatra é o único sobrevivente de um grupo de tigres que incluía os hoje extintos tigres de Bali e de Java. Ele precisa de grandes blocos de floresta unidos para prosperar, e costumava vagar por toda a ilha. Hoje vive em populações isoladas como em Harapan, pois seu hábitat foi drasticamente reduzido por desmatamentos para a agricultura, plantações e assentamentos humanos. A destruição do hábitat obriga os tigres a viverem em áreas limitadas em busca de comida, onde é maior a probabilidade de que entrem em contato com seres humanos.

O conflito entre pessoas e tigres é um problema sério em Sumatra. Pessoas são regularmente mortas ou feridas e os tigres matam gado, levando a atos de retaliação dos moradores.

Segundo uma pesquisa da Traffic, a rede global de monitoramento de comércio de animais selvagens, a caça ilegal é responsável por mais de 78% das mortes estimadas de tigres de Sumatra, consistindo em cerca de 40 animais por ano. O tigre de Sumatra foi classificado como espécie criticamente ameaçada pela União Internacional para Preservação da Natureza em 2008, quando sua população foi estimada em menos de 680 indivíduos.

Os conservacionistas acreditam que a estrada comprometeria a floresta de Harapan de modo irreparável e injusto, e que é totalmente desnecessária. E acrescentam: existem rotas alternativas para o transporte de carvão, que usam as estradas existentes. Essas rotas alternativas não percorrem uma distância maior que a nova estrada proposta.

O agronegócio internacional converteu quase 10% de toda a ilha de Sumatra de floresta primária em plantações de palmeiras para extração de óleo nos últimos 20 anos. Em 1920 a floresta quase virgem cobria mais de 25 milhões de hectares, mas hoje tem menos de 500 mil.

Harapan é um projeto de conservação importante do governo indonésio, que deu suas primeiras licenças de restauração do ecossistema para a RSPB e seus parceiros em 2007. O governo espera designar 2 milhões de hectares até 2020.

“Harapan é uma iniciativa global para proteger e restaurar uma floresta, abrindo caminho para muitas outras”, disse Jonathan Barnard, chefe de florestas tropicais na RSPB.

“É importante para a vida silvestre e para as pessoas, mas seu grande valor é que envia um verdadeiro sinal de esperança de que as florestas degradadas do mundo podem continuar sendo importantes reservas de vida natural.”



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