Entra ano e sai ano, sempre tem Natal. Não muda nunca. Pelo jeito não vai mudar. Natal é época de muita coisa boa. Papai Noel, presentes, shoppings centers, peru, rabanada, lombinho, arroz à grega, farofa, vinho, cerveja, champagne, coca (cola), caipirinhas, 25 de Março e confraternização.
O Natal se aplica a diversas relações. Trabalho, funcionalismo público, família, trânsito, sonho, criança e gratidão.
Natal é época de trabalhos fingidos, ritmo lento, mas tudo legal e com aprovação da chefia. Sem crise. A não ser no mundo corporativo bobo que não entende nada de felicidade e de Natal, só de lucro. Trevas.
Natal dura muito. No serviço público é época de recessos oficialíssimos que chegam a ser inscritos no diário oficial para que ninguém chame ninguém de aproveitador ou malandro. Tudo assinado por “autoridades”. Dezembro “não se trabalha” porque é véspera. Janeiro, porque se precisa descansar. E enquanto não chega o Natal, festinhas. São amigos-ocultos totalmente oficiais, escondidinhos nos gabinetes para as secretárias, motoristas, seguranças, ajudantes, estagiários, apoiadores, colaboradores, garçons etc. Se a lista fosse do Congresso Nacional não caberia no artigo.
Também Natal é a ocasião de reencontrar quem não se vê há muito tempo nas festas de família. Isto é bom. Aquela prima que cresceu e ficou um espetáculo. Aquela outra que se separou e encurtou a saia e se ficou mais generosa com o decote pós-turbinada. O Natal realmente é uma maravilha. Veja quanta coisa positiva e gostosa há no Natal.
Talvez os idealizadores do Natal pudessem aproveitar a época apenas para reduzir um pouco algumas mentirinhas que, entra ano e sai ano, continuam como se pertencessem ao Natal. Aquela coisa autoritária de quererem que Natal seja época de sentimentos nobres, éticos, morais, superiores, perdoativos etc. Deveria ser. Mas não é.
O trânsito na cidade de São Paulo, por exemplo, mostra o contrário. Semana passada um sujeito esbofeteou uma mulher que custou a andar após o sinal ficar verde e depois parar para se despedir da namorada com um beijinho. Também, os estádios de futebol continuam a mostrar torcidas imbecilizadas tentando se assassinar. A sociedade não melhorou nada em algumas coisas.
Pelo lado das crianças, o Natal é muito belo. No meu tempo, era o sonho com a árvore e os presentes. Ficava-se tentando adivinhar o que havia no embrulho. Aquela felicidade anual era inesquecível, o sonho, a magia. Na minha família era época de alegria e só isso, sem qualquer autoritarismo religioso imposto.
Há o outro lado, claro. Trágicas são as infinitas crianças e famílias no país da historicamente péssima distribuição de renda que não podem ter um mínimo de festa. Nem uma vez por ano. Maravilhosas são as pessoas verdadeiramente abnegadas que criam condições para que estas crianças sonhem.
Sonho é Papai Noel. Pouco importa se este deus foi inventado pela Coca-cola. Tantas outros foram inventados por tanta gente e não chegam aos pés do mágico Papai Noel. O impacto positivo de a criança “viver” a magia de Papai Noel talvez seja o maior presente que os pais possam dar a um filho. É o sonho máximo de toda a infância, anual. É o sonho que preparará o adulto para sonhar com força apaixonada, como os grandes adultos devem sonhar.
Como todo ano, registro amores e agradecimentos. Aos amigos, todos, do Facebox e de qualquer lugar. Sem exceção. Os reais, os fakes, os próximos, os ausentes, os praticamente inexistentes, os apenas curiosos, os desconfiados, os que eu não faço a menor ideia de quem são ou os que não fazem a menor ideia de quem eu seja. Todo mundo merece amor. As turmas profissionais de advogados, clientes, professores, músicos, jornalistas, a FGV e os alunos. Os jornais O Dia SP e O Anápolis, GO, o site Brasil 247, e nossos comentaristas, todos, os brigões, os que xingam, os que elogiam, seja PT, PSDB, direita, esquerda, centro ou maluco. A Abraji, a ABNT, a OAB, a SBPC. Familiares e vizinhos. Alguns nomes, apenas para humanizar o texto. A turma do Observatório Geral com destaque para a escudeira Roberta Simão e os articulistas. Paulo Cruz Filho; Celia Cristina B. Noel; Celia e Laerte Simão; David Levi; Dilmar Ferreira; Érica e Mônica Arakaki; Fabiana Mendes; Gisele Federicce; João e Fabiana Bento; Karen Rodrigues; Leonardo Attuch; Luiz Fernando Emediato; Márcia A., Priscila A., Verinha e Juca; Priscilla Pigosso; Renata e Roberto Alexandre; Rita e João Hélio Salgado; Stella Maia e Cadu; as filhas; minha gostosona (mãe); a parentada e todo mundo.
Também Feliz Natal para a inteligência, a paciência, o amor, o equilíbrio, a lógica, a sensibilidade, a delicadeza, a ciência, a genialidade, o conhecimento, o companheirismo, a gratidão e a coerência. Esperando que a política profissional fique menos corrompida; que o povo retome as ruas em manifestações próprias da democracia, e que todo mundo se torne mais gentil e amoroso.
Pode-se querer tudo, sonhar tudo. Afinal é Natal. Feliz Natal. Jean Menezes de Aguiar/OBSERVATÓRIO GERAL.
[Versão reduzida; a íntegra foi republicada no jornal O ANÁPOLIS, GO]
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