Há um perigoso jogo querendo ser preparado por parcela da sociedade. Ínfima e numericamente risível, vá lá. Mas teoricamente (só muito teoricamente) preocupante. Coisa de pedir general de Exército como presidente da República e pedir intervenção militar.
Há vários lados aí. Primeiramente, qualquer general pode se candidatar legitimamente a qualquer coisa. De síndico a presidente da República. O sufrágio é universal e garante a todos votar e ser votado. O movimento de um general se candidatar e tentar se eleger é perfeitamente democrático. Ninguém criticaria o desejo de um general migrar para a política. É problema dele. Se teria votos já é outra análise.
Outra coisa é quererem precisamente um general para presidente da República. Há aí uma negação da democracia pela suposição da ordem pela violência que somente um general poderia manejar. Também há uma negação a concorrentes democráticos no sentido de que o político de um partido não seria forte o suficiente para derrubar o sistema constitucional e tirar o governo eleito pelo povo. Aí, um general seria a saída.
Uma terceira via que aparece como corruptela boçal da anterior é o descaramento politicamente analfabeto -e talvez interesseiro em alguma coisa- de se pedir intervenção militar. É claro que quem pede um general como presidente pode aceitar uma intervenção. Mas pedir a intervenção em si é querer o golpe de Estado. É um ato terrorista contra o sistema.
No ‘Facebox’ há 12 mil pessoas que pedem um general chamado Augusto e 5 mil que chegam a pedir intervenção militar. Essas pessoas talvez nem merecessem uma crítica severa, mas deveriam se informar que giram numa objetiva e racional contramão da história, indefensável até por direitistas insuspeitos.
Nenhuma democracia no planeta se funcionaliza sob um general ou por meio de uma intervenção. O problema não é o general em si. É claro que pode haver generais democráticos e verdadeiramente não violentos, autoritários e agressivos. Mas esta demanda popular é pela violência, pelo autoritarismo e agressividade do ‘eu prendo e arrebento’ de Figueiredo e de tantos outros.
Após a estapafúrdia participação militar na vida política nacional o próprio Exército nunca mais sonhou em fazer política. Generais minimamente inteligentes perceberam a cumbuca que a política é e optaram claramente em não mais enfiar a mão ali. Mas o problema é parcela da sociedade ainda arder por esta intervenção doidivanas.
O pensamento conservador e reacionário é um direito de cada um que opte por ser assim, afinal, estudar História dá trabalho, os livros custam caro e tem o pior: precisam ser lidos. Aí o tormento pessoal de muitos. Pessoas quererem ser autoritárias e violentas também podem achar explicações em idiossincrasias próprias. Mas se querem opinar sobre política, democracia, formas e regimes de governo e Estado deveriam estudar um mínimo. Saber que intervenção militar não é um remédio, mas uma droga. Um verdadeiro crack institucional. OBSERVATÓRIO GERAL.
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