A Polícia Civil de São Paulo identificou esta semana 49 pessoas “black blocs“, nas manifestações de rua, desde junho de 2013. Há um divisor de águas na questão, relativamente incômodo. Os black blocs vieram juntos com as manifestações legítimas da sociedade. As manifestações indicaram um acordar do brasileiro em exigir probidade do poder público com o dinheiro do povo com tarifas, atendimentos etc. Coisa que nos últimos 50 anos simplesmente não existiu.
Num primeiro momento, o pensamento retrógrado tachou apressadamente todos os manifestantes de “baderneiros”. Esta foi, por exemplo, a desastrosa fala do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Também neste início, imprensa e intelectuais apoiaram sem reserva as manifestações. Caetano Veloso chegou a se fantasiar de black bloc, num modelito surf-oba-oba totalmente discutível.
Mas deu-se o racha na paz. Um pequeno núcleo, se comparado à imensidão da sociedade que ia para as ruas, exatamente dos autointulados black blocs, se tornou agressivo, violento e mundanamente criminoso. Mas criminoso vulgar, primário e vagabundo-chinfrim. Assaltante de pipoqueiro, batedor de carteira, caixa eletrônica de banco, incendiador de Corsa, Fiesta e Gol.
O crime não se legitima. Não há um crime culto, ou “cult“, e um mundano. Quando as primeiras reações criminosas de quebra-quebra começaram, muitos observadores foram pegados de surpresa no sentido de ainda não querer reprovar aquela atitude. Mas a partir de um determinado momento a coisa descarou. Virou assalto a banco.
A impressão é que assaltantes e bandidos em geral perceberam que podiam agir camuflados na onda das manifestações. Ou que esses black blocs aí de classe média mesmo supuseram poder lucrar uma “beirada” se conseguissem explodir um caixinha eletrônico. É o famoso “quem sabe?” ou “me dei bem”.
O saldo é que praticamente toda a sociedade, imprensa e analistas sociais passaram a condenar em unanimidade isso que se identificou como black bloc. O movimento – este, de pretinho básico- perdeu totalmente a legitimidade e estima-se que agora tenha conseguido se associar à imagem de simples bandidos e reles assaltantes.
Há uma perda de eficiência social aí. Os black blocs poderiam ser úteis para a sociedade pacífica em alguns enfrentamentos com uma polícia sabidamente desqualificada e ávida por bater, só bater. Mas não assaltando bancos e incendiando Fiestas. Parece que uma vocação a “vou-me-dar-bem” falou mais alto.
Todo mundo que já foi jovem sabe que jovem faz m. (em francês, merde), no sentido de transgressão. Isto chega a ser bonito, poético e legítimo. Mas fazer m. para si, implicando apenas a própria pessoa é uma questão. Querer roubar banco não tem nada que ver com o fazer m. compreensível do jovem.
Os black blocs perderam. Enfiaram os pés pelas mãos. Poderiam estar no colo da sociedade. Sifu. Agora são procurados pela polícia. Um efeito colateral péssimo, ainda, foi o de terem atrapalhado a legítima manifestação social das massas, que não queria, obviamente, assaltar banco.
Se eles devem ser presos? Qualquer um que cometa crimes deve, a lei é para todos. Jornalistas e fotógrafos, por exemplo, foram agredidos e tiveram equipamento quebrado (e roubado!) por black blocs. Reconhecer todo este cenário é uma lástima. Havia uma luz no final do túnel com uma ideia de que os black blocs pudessem ajudar, mas eles próprios se incumbiram de apedrejar a lâmpada. Há hoje uma suspeita de que eles possam ter atrapalhado o Brasil, afinal as manifestações de rua cessaram. OBSERVATÓRIO GERAL.
Categorias:Cidadania online