Novela “Amor à vida” é patrulhada por conselhos profissionais. Pode?

paloma_joao_miguel_jr_matInacreditável. A manifestação artística é livre, garante a Constituição, certo? Errado. Para conselhos profissionais a arte que mostre, por exemplo, um médico, um enfermeiro, um engenheiro precisa ser politicamente correta. Parece maluco ou patético, mas tem sido assim.  A novela “Amor à vida” vem sofrendo patrulhamento por retratar profissionais “de maneira errada”, ou com “procedimentos errados”. Pela lógica absurda de conselhos e associações não pode haver, por exemplo, um médico charlatão em um filme, novela ou teatro que o CRM quererá processar na Justiça. Certamente há mais conselhos assim.

A novela da Rede Globo tem sido constantemente notificada por conselhos profissionais que parecem não ter mais o que fazer. Reclamam, por exemplo, da paciente Paloma (foto – Paolla Oliveira) que recebeu eletrochoque como tratamento. A Associação Brasileira de Psiquiatria parece que se doeu, ou quis surfar na fama, e defendeu sua “preocupação” com a “repercussão que cenas tão agressivas possam causar”. Para esses conselhos o povo deve ser tonto e não sabe avaliar que aquilo é uma “novela”.

Walcyr Carrasco, o autor do folhetim, para retratar o hospital da novela disse utilizar especialistas. Mas mesmo que não utilizasse. Continua sendo novela. Ficção. “Mentirinha”. Será que os conselhos são tão primários assim? Ou uma onda exageradíssima de “politicamente correto”, conservadorismo e patrulhamento em nacos vem assolando cabeças caretas e ultraformalistas?

Carrasco afirma, com razão, enxergar um autoritarismo no patrulhamento. Diz o autor: “Essas associações querem exercer um controle sobre o que a sociedade deve pensar. É atitude autoritária travestida de preocupação bem-intencionada”.

Que pena que a arte continue a enfrentar agressões e violências desse tipo. Viva a arte, “mesmo que” livre.

[PS. 1) Respeitáveis senhores do CRM, o OG adverte que a foto utilizada retrata só ficticiamente uma médica. É de mentirinha. 2) O PS1 é de brincadeira.] OBSERVATÓRIO GERAL.



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2 respostas

  1. Bom, eu simplesmente não vejo.

  2. Sou psiquiatra e trabalho com eletroconvulsoterapia (ECT) ou eletrochoque.
    Não assisto novelas televisivas de uma forma geral, mas todos os meus colegas de trabalho que viram o capítulo em questão foram unânimes em descrever como, no mínimo, estigmatizante o tratamento que foi dispensado à paciente do folhetim. Ela sequer foi examinada na presença de um médico e foi encaminhada para internação.Logo de cara recebeu um eletrochoque a seco, sem ter um diagnóstico firmado, sem ter um assistência prestada, sem ser ouvida.
    Não se trata de patrulhamento profissional, os conselhos de especialidades estão aí para fazer esse trabalho. Entretanto, quando se trata de saúde mental, este assunto tão delicado e ainda tabu em nossa sociedade, é lamentável que a Rede Globo veicule a atenção e os tratamentos oferecidos na atualidade de forma tão pejorativa e mentirosa.
    Existe um longo trabalho para romper o estigma da doença mental em toda a sociedade, um fator preponderante de sofrimento que observamos diariamente na clínica. A novela “Amor à Vida” infelizmente contribui para a manutenção do estado atual das coisas.