Todos somos macacos!

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Jane Goodall

Na 6a feira, 28.2.14, a Federação Paulista de Futebol (FPF) decidiu pela interdição do Estádio Romildo Vitor Gomes Ferreira, do Mogi Mirim. A causa é o racismo pelo xingamento de ‘macaco’ que a torcida local praticou contra o jogador do Santos, Arouca.

Há aí, sem dúvida, o que em Direito se chama ‘ânimo de injuriar’. Totalmente punível, totalmente lamentável. O racismo se revela em situações e atos até muito mais graves do que chamar alguém de macaco. Chega a agressões sérias e mortes, impedimentos a postos de trabalho e mesmo toda uma discriminação feita contra crianças nascidas negras. Um horror que os tempos modernos não conseguiram extirpar.

A ideia da FPF de interditar um estádio é bem inteligente. Como no Direito Penal a pena não pode passar da pessoa do condenado e há que se especificar quem é o agente criminoso, aqui pune-se, difusamente, toda a torcida e o próprio clube pela falta de educação – e ofensa-. Muito razoável.

Até aí tudo bem. Mas e o macaco? Seria ele um representante de algo negativo a que os negros ou brancos – há macacos brancos- deveriam se envergonhar? Nenhum biólogo ou livro de biologia vê no macaco uma fonte de vergonha em relação ao ser humano. Jamais! Vejam-se apenas três autores mundialmente famosos e suas obras. Frans de Waal (A era da empatia), Ernst Mayr (O que é evolução) e Richard Dawkins (O maior espetáculo da Terra).

Waal que chama em seu livro uma colega bióloga de ‘macaca’ e ressalva que ela se sentirá orgulhosa com essa natural ancestralidade científica, sugere que macacos possam ser mais gentis do que humanos. Os bonobos são os de maior empatia. Os chimpanzés são carinhosos. Já os babuínos são mais frios e vivem seus lutos sozinhos. Entre os animais há demonstração de crueldade, como entre humanos, mas há coisas surpreendentes a se aprender com eles.

Mayr organiza a conversa classificando: ‘os antropoides africanos (gorila, chimpanzé, bonobo e homem) e os antropoides asiáticos (gibão e orangotando)’. Somos antropoides. É tão simples saber disso, e tão inquestionável.

Dawkins demonstra que ‘evidências moleculares mostram que o ancestral que tivemos em comum com os chimpanzés viveu há cerca de 6 milhões de anos.’ Simples assim.

Quem está sendo xingado é o macaco, esse ser sem qualquer relação com todo o restante da vida animal a não ser o homem. O macaco precisa ter sua inserção social pedagogicamente corrigida, inclusive com crianças e jovens. Seria muito bom que todos ‘desestigmatizem’ a figura do macaco como ofensa ou negatividade. Que todos aceitemos ser chamados de macaco por uma mera questão de origem e que tenhamos orgulho dessa origem, com um animal tão belo e maravilhoso.

Waal conta uma história surpreendente. Uma bonobo chamada Kuni viu um passarinho estorninho trombar com a vidraça de sua jaula no zoológico. Kuni pegou o atordoado pássaro e subiu até o topo de uma árvore para soltá-lo. Depois de abrir suas asas, lançou-o pelos ares como se fosse um aviãozinho. Kuni teve a inteligência de uma ação adaptada às necessidades do animal. Além do cuidado para com o outro, coisa que muitas vezes não é o comum entre humanos.

O mundo precisa de empatia, delicadeza e gentileza. Não de xingamentos. Ou pretextos nominais para se querer acionar tudo e todos na Justiça. Se o obscurantismo científico contribui para mitos e enganos cruéis, o conhecimento pode fazer a sociedade mais feliz e natural, como ela é. Que negros e brancos sejam a mesma coisa, todos nós com orgulho de sermos macacos evoluídos. Sabendo-se que algumas de nossas macacas são belíssimas, suntuosas e apaixonantes. OBSERVATÓRIO GERAL.

Jean Menezes de Aguiar



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3 respostas

  1. Não seria melhor ideia interditar o estádio somente à torcida?

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