Quem tem medo de Lula?

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A oposição tem. Percebe-se. Os candidatos Aécio-sem-vice e Eduardo-Marina-tiro-pela-culatra falam de tudo. Menos de Lula. Um dos grandes erros estratégicos dessa oposição ao mesmo tempo híbrida e bífida pode estar aí.

Há quem diga e sustente que Dilma vencerá não por mérito próprio, mas pela ineficiência da oposição que se vê continuadamente trôpega e insistindo nos mesmos erros.

Falar do ‘governo’, bem genericamente, do PT e da própria Dilma os candidatos da oposição falam. Ou melhor reclamam, como maricotinhas fofoqueiras. Mas provocar e instigar Lula, chamando-o para um debate de ideias, programas, acertos e erros, e projetos para o país isso nem pensar. Morrem de medo. Fica patente que é por deficiência pessoal mesmo.

Esta tática comportamental do não enfrentamento é atribuída a marqueteiros. Aí pode estar outro problema. A falta de estadistas originais, autênticos, autorais, sinceros e genuinamente enfrentadores criou essa cepa bamba de políticos ‘do bem’ que abre mão do próprio pensar. Esses precisam contratar publicitários, ideólogos, politólogos para que pensem por eles. É a negação da própria personalidade. A terceirização do raciocínio.

Será que um Leonel Brizola, o inventor do marketing político pessoal precisaria dum ‘marqueteiro’? Ou mesmo um Darcy Ribeiro? É claro que não se pode comparar Aécio-neto e Eduardo-olhos-azuis a esses estadistas. Aécio e Eduardo cumprem seus excelentes papéis e o fazem da melhor forma possível. Tomam aulas particulares com marqueteiros de como andar, como mexer as mãos, como comer sanduíche de mortadela em rodoviária, como pegar bebês no colo para parecerem ‘do povo’ etc.

Nada contra marqueteiros que acabam tendo suas finalidades e faturam legitimamente trabalhando e vendendo suas expertises comportamentais. Mas se uma vitória política é fruto de ‘marketing’ ela não é verdadeira, não é autoral, não é sincera, não se dá pelo olhar direto e denso do próprio candidato. É o candidato que ‘colou’ na prova e se deu bem. Há aí mecanismos de ilusionismo de massas, encantamento artificial de ideias e prestidigitação de vontades eleitorais do povo. Em um nome raso poderia se dizer: fraude.

Nem a mentira, se houver, é do próprio candidato. É tudo delivery, ou emprestado. Aí quando o candidato perde tenta colocar a culpa no marqueteiro que já embolsou dezenas de milhões de reais. Por sua vez o marqueteiro não está nem aí para mais nada.

Mas e o Lula? Que pânico é este da oposição? Gostem ou não, Lula se tornou um líder mundial. Pegou o Brasil – bola da vez-, pós-ditadura e não se elegeu por forças financeiras poderosas de bancos e empresas, como costuma acontecer com inúmeros políticos da direita. Elegeu-se pela cara lavada do povo, a massa. Essa identidade-raiz que talvez nem Dilma tenha projetou involuntariamente Lula a um trono global de liderança.

Daí, entende a oposição medrosa, não é possível brigar com um líder mundial. Mas é. Lula continua acessível, figurinha fácil na mídia e nas esquinas do poder. Outro medo que essa oposição tem é de, com a abertura dum diálogo, fortalecer o PT.

O problema é que a oposição está perdida e dando tiro no escuro. A CPI da Petrobras não saiu. Aécio e Eduardo ainda duelam sinistra liderança para somente na reta final comporem-se como um a candidato a presidente e outro a vice. O problema é quem segura a rabeta do vice. Se esta suposição de junção é maluca, talvez fosse a única que gerasse uma fusão minimamente visível em termos nacionais: um de Minas-Sudeste, outro de Nordeste-Norte. Mas para muitos essa fusão é totalmente improvável.

Como não há o improvável em política, mas o meramente possível, tudo é cogitável. Sobraria a pobre Marina e seu autoritarismo portátil. A ela um ministeriozinho de meio ambiente e não se fala mais nisso.

Lula precisa ser enfrentado. Por vários aspectos. Primeiro para saciar a saudade de petistas e petralhas – curioso termo que começa a perder o estigma-, em ver seu timoneiro em ação. Segundo pelo próprio Lula, sua verve precisa ser testada nesta eleição; seria um desperdício passar em branco sem um embate público com ele, ainda que não candidato, mas o grande pano de fundo do PT. Terceiro porque a oposição – se conseguir trazer Lula para o debate!- sempre ganhará, uma ou outra casquinha. A oposição poderia se preparar e ter uma participação valiosa, própria da democracia. Um aspecto a mais é que todo e qualquer debate político ilumina a democracia.

Um debate na TV, FHC representando a oposição e Lula representando o PT. Não seria um espetáculo? O único aí que tem condições de enfrentar Lula, FHC, é claro que não querendo saber de eleição. Não tem mais nada a provar, pelo menos esse deve ser o seu próprio juízo.

Há uma última razão para este onírico enfrentamento a Lula. Se ele negasse, a oposição poderia ‘reclamar’ que ele não quis participar. Nunca quem está em primeiro aceita debater com o segundo. A fórmula é velha de guerra. O primeiro não vai a debates e o segundo chia. Mas como Lula não é o candidato, poderia ir. Por farra, diversão ou estrita seriedade de sua posição de representante do PT.

Puxar o mentor de Dilma para o debate parece ser uma necessidade não somente da oposição. Mas de toda a sociedade que é governada por ela, sob o olhar paciente e professoral dele. Seria um evento, certamente, de interesse internacional, dada a diversidade de princípios e escolas de gestão envolvidas com o Estado. OBSERVATÓRIO GERAL.

[Artigo para os jornais O DIA SP e O ANÁPOLIS, GO]

 



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