Debates políticos na TV ou teatrinhos cênicos?

debate

As televisões querem, todas, faturar em cima dos políticos. Como têm que ceder horário eleitoral gratuito é meio compreensível que queiram alavancar audiência nos debates. Até aí, um desejo não de todo extravagante.

No debate de 1.9.14, o empolgado, e empolado, mediador do SBT chegou a anunciar que o assunto era o mais discutido no twitter: ‘no planeta’. Se for verdade, o que isso pode representar para o SBT continua sendo um mistério.

De início, há que se perguntar se esses debates debatem efetivamente alguma coisa. Se ideias contextualizadas, princípios políticos, programas estruturados e intenções minimamente confiáveis são verdadeiramente expostos. A ponto de se conhecer o candidato e se poder ter uma previsão segura de como ele se portará.

A não ser assim, confirma-se que tudo não passa de uma representação estética, cênica. Praticamente um Bbb eleitoral.

Também, estabelece-se a desonestidade generalizada de que no tempo de 90 segundos para a pergunta, o candidato gasta 88 fazendo propaganda pessoal e 2, às pressas, para uma perguntinha mal concebida. Se puder, atacando mais o outro do que questionando. Um joguinho rasteiro.

Invariavelmente, o grau de verdade de cada discurso pessoal e a possibilidade de enfrentamento que cada um tem com as questões adversas que lhe são dirigidas são totalmente discutíveis. Parece que a verdade mansa e pacífica jamais pode frequentar esses eventos.

Se a política é a arte do possível, um debate eleitoral é a arte da mentira fantasiada de verdade. E nem se diga que esta crítica é um desserviço porque querer-se-ia imprestabilizar toda a política e todos os partidos; que a substituição seria a ditadura. Nada disso. A política brasileira em geral é péssima e atrai todas as críticas. No lugar dela há que se exigir uma política melhor. Muito melhor. Que não é, jamais, essa coisa plácida e fingida que se está vendo em debate de TV.

Uma particularidade vem chamando a atenção nos últimos tempos. Há um patrulhamento, uma perseguição malandra e cínica, não confiável, buscando reprimir debates acalorados, pungentes e críticos. Ou seja, debates verdadeiros, viscerais e autênticos. Algo como: morra, mas não dê suas verdades!

Querem apelidar de ‘debate de alto nível’ ou ‘do bem’ um teatrinho televisivo lânguido, anêmico e totalmente fake, para usar o estrangeirismo da moda. Tudo muito plástico. Praticamente atores.

Abriu-se mão da naturalidade e singularidade de cada um. Todos, como se fossem despersonalizados, precisam obedecer a um marqueteiro de plantão para perguntar, olhar, mexer com as mãos, suspirar e responder.

Ou seja, não há mais identidades, idiossincrasias, defeitos e virtudes. Mas também não há insatisfações, queixas e inconformismos figadais. Desmontaram as verdades de cada um.

Todos precisam sorrir igual, responder a todos começando a frase pelo primeiro nome, fingindo intimidade e, parecer que são educados. Mas observe, é aquela educação contida, formalista, representada. Em uma palavra: cínica.

Aqui, uma questão: estima-se que os candidatos, todos, sejam naturalmente educados. Por que então fingem uma educação que não é a sua? Fica parecendo que tiveram uma primeira aula de etiqueta e se esforçam para cumprir um protocolo. Ou seja, naturalidade zero.

Os marqueteiros e sua subintelectualidade pensam que a sociedade é tosca. Daí adestram seus aluninhos candidatos a presidente da república a se comportar. E o mais interessante – ou desesperador-, todos obedecem. Ficam todos com a mesma cara.

Será que não chegou a hora de a sociedade e a própria imprensa cobrarem verdade nos olhos desses candidatos e menos atividade artística e protocolar? Ainda que uma grande parte do protocolo e falta de autenticidade nesses debates partam das próprias emissoras de TV, acostumadas ao atual jornalismo-teatro.

Os debates televisivos de 2014 estão se mostrando desastrosos. Questionamentos crucias, indignações espontâneas e negações nevrálgicas que seriam de se esperar, nada disso houve.

Nenhum dos escândalos históricos noticiados semanalmente na imprensa envolvendo o Estado, partidos, políticos e gestores, compôs o menu de embate nos debates.

Se pragas sociais do ‘politicamente correto’ e penduricalhos ‘do bem’, esses maniqueísmos que encantam budistas de final de semana e descolados de Ipanema, pretenderam impor um ‘debate de alto nível’, há que se rechaçar o arranjo.

Debate de alto nível é se conhecer entranhas da personalidade autoritária ou gentil; fundamentalista ou progressista; mentirosa ou verdadeira; escapista ou genial; farisaica ou valente de um candidato. Ainda que ele dê, efetivamente, a cara para bater e defenda ardentemente suas ideias.

Saudade de gente com sangue nas veias. Saudade de Maria da Conceição Tavares, Brizola, Darcy Ribeiro, Pedro Simon e uns poucos outros aí. OBSERVATÓRIO GERAL.

 

 

 



Categorias:Política

Tags:, , ,

1 resposta

  1. “…tudo não passa de uma representação estética, cênica. Praticamente um Bbb eleitoral.”.
    Estas paupérrimas encenações jornalísticas, confirmam o mau momento do Brasil, no que diz respeito à qualidade, dos atuais meios de comunicação social.

    ” Saudade de Maria da Conceição Tavares, Brizola, Darcy Ribeiro, Pedro Simon e uns poucos outros aí.”.
    Não devemos viver só de saudades, devemos acreditar que ainda existem muitas pessoas como essas por este Brasil.

%d blogueiros gostam disto: