Dentre as diversas novidades da atualidade uma chama atenção de educadores. É o aluno-whatsapp. Tudo bem que toda uma geração de pessoas ande pelas ruas quase que lobotomizada pelo celular. Mas quando isso chega às salas de aula parece ser grave a crise.
Pior, quando chega, por exemplo, a um curso de MBA. O curso que, em muitos casos pretende apenas ser uma graduação em relação a uma graduação que não graduou qualificadamente.
Mesmo com todas as reformas conceptivas porque passou a escola, ela ainda deveria ser considerada um templo. Práticos, com formação acadêmica ‘insuficiente’ e ‘descolados’ de plantão querem que não. Saem com a história de ‘faculdade da vida’. Como se alguém vivo meramente não vivesse.
O aluno-whatsapp é um sinal dos tempos. As causas são mais profundas do que a simples e corriqueira paquera online de todos nós.
Jean Biarnès, professor da Universidade de Paris 13, em ensaio intitulado ‘O significado da escola nas sociedades do século XXI’, partindo da escola francesa, mapeia a situação evolutiva e conceitual do ensino. Mostra que educar o cidadão era promover sua liberdade, igualdade e fraternidade, humanismo que se mostrou insuficiente numa época em que o Liceu era a escola das crianças da burguesia e a própria educação visava à formação social.
Em 1960 a escola abandona o uniforme, em atendimento à era ‘comunicacional’ e a valorização da teoria dos dons pela eficiência, quando se chega à época da televisão e à famosa frase: ‘Professora, ontem eu vi na televisão…’ Certamente aqui começava a ruptura e a escola não acompanhou.
O aluno apropriou-se da informação visual, televisiva que não encontrava na sala de aula. Daí a considerar que tinha à mão a possibilidade do acesso ao conhecimento foi um pulo. Errado, um pulo no vazio, um eureca lisérgico. Se a escola não lhe dava a transmissão, continuava a caber a ela a parte profunda, os dois grandes pilares da compreensão: a metodologia de análise e a organização desses conhecimentos fragmentados que a imagem e o som proporcionavam.
Com o advento do celular e a troca de informações à mão, este aluno, ainda um ‘analfabeto da imagem’ fabricado por esta escola tradicional, pressentiu a portabilidade. Mais, experimentou-a efetivamente. Agora ganhava o mundo com sua motocicleta do saber, o celular.
Por fim, quando o celular passou a funcionar como walktalk social, conceitos e funções novos vieram. Inserção identitária, em que todos e qualquer um se falam sem barreiras e códigos culturais. Juntividade social assimétrica, em que classes inteiras, antes autorrestritas, agora totalmente igualitárias pelo whatsapp, passam a se comunicar permitindo esse furo no capitalismo de castas, sem intermediários, sem autorização. Aí, a patroa riquíssima pergunta à faxineira que horas ela chegará.
Essa bebedeira coletiva da comunicação seviciou um país iludido como o Brasil, que até hoje mantem, com fartas anuências de órgãos federais, suas muambeiras a trazerem miniaturizações de Miami ou Cidade do Leste. É a mesma coisa.
Ora, há que se defender o aluno. Ele não podia ficar alheio a tudo isso. Inovação; revolução tecnológica; portabilidade; paqueras, semipaqueras, parapaqueras, quase-paqueras online de todo tipo e forma com todo o planeta, da vizinha casadíssima à mulher do melhor amigo, numa liberdade ética nelsonrodrigueana própria dos novos tempos em que se algo for carimbado de ‘preconceito’ será uma infâmia abrir a discussão. É o pode tudo.
Daí, frequentar uma sala de aula, por todo o tempo da aula, com o whatsapp superativo passa a ser questão fundamentalista que ninguém ousará discutir. O professor será avaliado semestralmente pela turma, ou seja, não vai se meter a besta com o aluno. A escola transformou o aluno em cliente, um cinismo capitalista pérfido e despudorado. E o aluno, finalmente, conseguiu descobrir a engrenagem.
Mas se nesta sociedade do pode-tudo-sem-ética cada um terá que saber se defender, é o aluno que, sem dúvida, está prejudicado. Aqueles dois pilares da escola e da educação – metodologia de análise e a organização dos conhecimentos fragmentados-, e tantos outros como gentileza, amor, tolerância, humanismo etc. não estão sendo manuseados.
O nível de estresse e violência também chegou a escolas, lares, relações amorosas e torcidas de futebol. Um mundo ‘prático’ – fácil e burro, tacanho e não científico- vem encantando alfabetizados a-funcionais.
O professor também tem sua grave parcela de culpa nisso tudo. Muitas vezes não se moderniza e não se reinventa. Isso quando também não é um estudioso voraz. Mas a corda continua arrebentando no lado fraco da relação, exatamente aquele que deveria estar compreendendo as novas e mutantes sociologias.
O estudante insistir num pensamento mágico-portátil de que com seu celular, dotado de google e whatsapp pode tudo é um nó górdio epistemológico que na maioria das vezes ele jamais saberá desatar. O problema é o sentimento de poder aliado à imagem de que o conhecimento plenário, pausadamente refletido é ‘careta’.
Na década de 60, para muitos, a maconha era o ‘problema’. Mas aquele jovem aprendeu a reconhecer o valor do conhecimento. Atualmente, muitos acham que o conhecimento fica no mesmo bolso que o baseado: no celular. Ocorre que há um mar de gente estudiosa e seriamente competente, inclusive utilizando não apenas resumos e apostilas, mas aquela coisa atualmente estranha chamada ‘livro’. Para estes tudo tende a ficar mais fácil. OBSERVATÓRIO GERAL.
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É muito importante integrar a Tecnologia à Educação.