Bolsonaro é legítimo, intervenção militar é totalmente ilegítima

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Foto: Evandro Teixeira

Compara-se o deputado Jair Bolsonaro à intervenção militar, apenas porque ele foi capitão do Exército e muita gente acha que isso seria uma intervenção indireta. Nada mais enganoso. Pelo menos espera-se.

 

Qualquer cidadão se candidatar é uma situação ordinariamente legítima. Cabo, general, juiz, desempregado, maluco-doidão, travesti, quem quiser ou puder.

 

Outra coisa, totalmente diferente, é uma ruptura constitucional, uma quebra da normalidade havida, obrigatoriamente, por uma intervenção militar, fechamento do Congresso Nacional, cessação de garantias constitucionais etc. Coisas de país atrasado.

 

A intervenção militar, como o próprio nome “intervenção’ já quer dizer, não é prevista constitucionalmente e esta parcela da sociedade precisa evoluir para aprender a respeitar os ditames e princípios constitucionais. Simples assim. Como as sociedades evoluídas do mundo.

 

Não há um único país democrático ou evoluído no planeta, nenhuma dessas sociedades, que aceite, tenha, mantenha ou propugne por uma intervenção militar. Isso já deveria ser um fator ‘lógico’ – desculpe-se o palavrão, para pessoas teimosas ou estúpidas – que convencesse.

 

É impressionante como em épocas atuais órfãos da ditadura, também seus netos e alguns filhos ainda, pedem intervenção militar.

 

Antes de querer punir ou julgar essas pessoas, é preciso cuidar da cabeça delas. A estupidez se revela por vários modos. Há o modo agressivo e briguento, o que tenta impor uma ‘verdade’ pelo grito. Mas há o modo saído de um resto de caldo cultural já apodrecido que faz a criatura simplesmente acreditar naquilo.

 

A crença precisa ser compreendida, ou pelo menos, perdoada. O crente em qualquer coisa, bastando-se em sua crença ou nas explicações que não contradigam sua crença, não quer saber de ‘explicações’, de ‘fundamentos’, de ‘métodos’, de ciência, comparações ou lógicas. Ele se sente bem crendo.

 

Gaston Bachelard, em sua tese de doutorado, Ensaio sobre o conhecimento aproximado, p. 102, ensina magistralmente: ‘não se acredita porque é simples, é simples porque se acredita.

 

Quem acredita numa intervenção militar como panaceia, ou remédio social, é apenas um iludido. Nada mais que isso. Mas também não conhece história, claro. Não quer ter sua crença estremecida por ‘livros’ – outro palavrão, aí, no caso-, como a suntuosa coleção de Elio Gaspari, que mostra as mazelas, os desmandos, a violência e a incompetência que havia no Brasil daquela época.

 

Há, para alguns, um saudosismo episódico de ‘um’ ou ‘outro’ acerto lembrado que, numa típica cultura-whatsapp ou cultura-instagram é prontamente transformado em ‘tudo era bem melhor’.

 

É claro que se esquece que a música oficial da Copa de 70, começava com um número que precisaria ser ‘comparado’ à atualidade. 90 milhões em ação… Hoje são mais de 200 milhões. É mais do que óbvio que o tamanho de tudo, se agigantou, principalmente os problemas.

 

Também há um moralismo-moral-e-cívico de plantão ao qual gays, lésbicas e travestis precisariam ser consertados a pancadaria e surras intensas até ‘pararem’ com essa ‘mania’. Efetivamente era um mundo bem mais cruel e bem menos gentil. Outros dirão, acertadamente: menos evoluído.

 

Meu pai foi a favor da intervenção militar. Mas teve a inteligência de receber as lições que eu meramente tirava de livros e mais livros, mostrando pacientemente a ele que uma intervenção militar jamais é sinal de progresso, mas de doença social, atraso estatal e em 100% dos casos mais gera problemas do que soluções. Morreu sendo um homem de direita, mas uma direita legítima, constitucional, uma que luta por seus candidatos legitimamente, não por uma virada de mesa.

 

Tenho amigos na direita e parece que atualmente, a moda é o extremismo. No futebol, na religião, na política, no ódio e na intolerância. Sempre que posso tento passar a ideia de que todos os lados, direita, esquerda, centro e mesmo as extremas direita ou esquerda são posições legítimas que podem ter seus representantes. O que não se pode aceitar são rupturas institucionais, como uma intervenção militar, ou uma virada de mesa, seja da direita ou da esquerda.

 

Com alguns desses amigos, há conversa. Com outros há ensurdecimentos momentâneos que a educação os obriga. Com outros, infelizmente, não se pode nem tocar no assunto. Qualquer coisa que contradiga sua crença é tabu.

 

Mas quando o tema é intervenção militar, uma mediana norteia o assunto: há, meramente, uma baixa intelectiva e cultural com a questão. E quando uma pessoa se mantém assim, é preciso todo um trabalho como de um filho a um pai, ou de um pai a um filho, ou de um professor a um aluno, para afastar a estupidez, com carinho e respeito.

 

Às vezes se consegue e a vitória é espetacular.

 

Jean Menezes de Aguiar



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