Dia do professor

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Nossa Homenagem

Responda rápido: quem é mais importante para o Brasil, um professor de primeiro grau ou um juiz?

 

Sim, é isso mesmo que você leu.

 

A Filosofia ensina que o difícil não é responder, mas questionar. Por outro lado, grande parte da sociedade não quer enfrentar questionamentos sérios, comprometedores, densos. Em muitos ambientes sociais, tudo precisa ser ‘levinho’. O eufemismo teorético da futilidade.

 

Professores hoje recebem, por todo o país, felicitações. São felicitações inofensivas para uma criatura razoavelmente inofensiva que espelha certo carinho social. Tudo bem.

 

Mas é pouco. Infelizmente é.

 

Esta data repetitiva que se ‘comemora’, não tem qualquer vocação para mudar a sociedade. Sim, o professor seria um agente central da mudança da sociedade. Mas ele continua sendo inofensivo. E tudo continua exatamente igual.

 

Educadores ensinam, há décadas, que o país, para sair do atoleiro ético, da cultura do furto e do roubo, e da corrupção antropológica vulgarmente conhecida como ‘jeitinho brasileiro’ – quando não milionária-, precisa[ria] de Educação.

 

Mas os educadores nunca foram ouvidos efetivamente. Isso quando não foram insultados, apenas pelo que são. A sanha da política brasiliensis e de uma elite ávida tem pressa, furor, libido e precisa garantir a fenda arrombada para as próprias gerações futuras de filhos, genros etc.

 

Vejam os salários oficialíssimos de um Estado imoral e desonesto como o brasileiro. Todos dos primeiros escalões com o tal do ‘teto constitucional’ feito de bobo. São benefícios e artimanhas legais com o dinheiro público que ninguém se incomoda. Férias de 2 meses, auxílio livro, auxílio roupa, auxílio passagem aérea, auxílio moradia, auxílio fome, auxílio saúde, auxílio aluguel de carro etc. É deputado gastando 160 mil reais com dentadura. É neguinho indo ver santa em Roma levando amante etc. E o povo nada. O povo brasileiro é confiável. Não se revolta.

 

Alguém aí dirá que revoltar-se é algo nobre, que a Educação concede, ensina e dá. É isso mesmo. Mas é exatamente isso que o povo brasileiro não recebe. Alain Touraine, na obra O Pós-Socialismo, p. 40, cita Debray ‘Não são os partidos que fazem as revoluções. São as revoluções que, uma vez consumadas em Estado, fazem os partidos.’ A manifestação de 2013, no Brasil, com o povo nas ruas, pareceu que geraria uma nova gente, uma nova cultura. Que nada. Marasmo e ataraxia por alienação garantidos.

 

Florestan Fernandes, ao lado de outros professores, posto em pé quase que a força diante de uma comissão de expurgo da USP, logo em 1964, para formação dos primeiros IPMs, e tendo que cantar o Hino Nacional para provar o patriotismo – vejam que pérola histórica do patetismo humano-, já entregou direto sua carta de protesto. Sendo imediatamente preso. A história completa é contada em José Arthur Giannotti, A Universidade em Ritmo de Barbárie, p. 26.

 

Mas há o que comemorar na maravilhosa atualidade democrática a que o país depurou. Se não vilipendiarem a Educação, o professor, a relação quase que sagrada entre aluno e mestre. O futuro anda incerto neste quesito. Uns aí querem um professor híbrido, reciclável. Um eunuco intelectual. O que um autoral Nietzsche com sua placa na porta de casa, rindo dos mestres que nunca se riram de si, diria dessa ameaça à docência atual no Brasil?

 

O Brasil tem intelectuais de ponta. Há quem converse com educadores da cepa de um Edgar Morin e sua juntividade dos saberes, seu pensamento complexo. Mas parece que aqui se nivela por baixo. Cruz credo.

 

A Academia – se lembram dela? Sim, a boa e velha Universidade-, com u maiúsculo, se seduz, em muitos casos, pela veleidade de um atual saber-palito-de-fósforo – rápido, alegre, iluminado, cativante e jamais sem sacrifício-, que promete servir para acender até uma verdadeira usina. Só não ensina a controlar o vento que incide.

 

As ‘faculdades’ têm suas lógicas comerciais. O diretor não quer problemas. Manda que o chefe de departamento os resolva. O chefe de departamento não quer problemas. Manda que o professor os resolva. E o professor se torna um garantidor da felicidade, é claro, não mais reprovando ninguém. Nestas lógicas antropofágicas, quem perde é o próprio alunato.

 

Já o professor em muitos casos se transformou num estorvo. A escola quer vender o diploma, o aluno quer comprar e o mestre é o ‘empata f.’ que fica no meio do caminho. Isso quando não percebe que ser ‘alegre’ rende mais para um triste si próprio.

 

Henry Thoreau já disparava que ‘Existem hoje professores de filosofia, mas não filósofos’. Se se supuser a filosofia grega, vá lá. Que não haja mais filósofos, mas pelo menos a figura do professor não se tenha esbugalhada. A esperança é que ela se mantenha íntegra e verdadeira.

 

O problema é quando se duvida da higidez conceptiva de o que deva ser o professor em si, no sentido de uma atualidade permissiva, mas essencialmente primária. Onde estão os cientistas e os intelectuais da docência? Seres que seriam óbvios e naturais numa estrutura de ensino ‘superior’, vêm sendo substituídos por animadores de plateias uhuu-ahaa. Nem se objete que o ensino ‘mudou’. Mudou uma ova. As grandes universidades e escolas do mundo se mantêm hígidas com suas paredes de tijolinhos maciços, conforme relata um insuspeito Steven Connor, em A Cultura Pós-Moderna.

 

Países como o Brasil, tentando seguir modismos que prometem resolver a aporia de um moto perpétuo ‘social’, caem na esparrela delineada por Zygmunt Bauman, de que o Estado pode tudo, até declarar guerra, desde que os consumidores estejam felizes.

 

Muitos de nossos alunos, então, deixaram de ser alunos e se orgulham de ter se transformado em consumidores. Eles próprios não perceberam, ainda, o buraco negro que se meteram.

 

Para estes alunos, o professor ‘bom’ será o agente animador de plateia, o encantador de YouTube. Mas as sabedorias, os saberes e a própria cognoscitividade cobram mais do que a modernosa e descolada ‘agilidade’.

Ainda não inventaram um substituto para o pensar.

 

A jovem entrevistadora perguntou a Bauman, professor emérito da Universidade de Varsóvia, como era ele ser casado há 60 anos com a mesma mulher. Ele sorriu e respondeu docemente que a geração dela não saberia a beleza que é isso.

 

O professor, qualquer um que seja, deveria ser, antes de qualquer coisa, um ensinador de belezas, doçuras, amores, sentidos e felicidades. ‘Mesmo’ que essas coisas se lhe fossem incrivelmente verdadeiras e autênticas. Feliz dia, Mestre.

 

Jean Menezes de Aguiar.



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