Suzane von Richthofen celebridade … êh Brasil

 

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Quando a obrigação por escrever um artigo se torna pesada, ante a repetição inercial da safadeza política, aparece isso, da sociedade brasileira.

 

Matéria publicada no jornal O Dia – 5.6.17- dá conta que Suzane von Richthofen é tratada nas cidades de Itupeva e Angatuba, interior de São Paulo, como … ‘celebridade’. Isso mesmo que você leu.

 

Totalmente crível o absurdo. Principalmente nesta sociedade espumosa do hiato ético. Talvez até a Filosofia não se interessasse por esta viragem histórica, de uma moça que matou os pais, foi condenada a 39 anos de prisão e, exclusivamente por aparecer na TV, aqui e ali – dane-se como, isso não importa-, se torna ‘celebridade’ para algumas ou muitas pessoas.

 

Mesmo para uma mente onírica, devassa, transgressiva, anárquica e marginal, ou intelectual em qualquer medida que se supuser, acostumada com as devassidões sociais e as promiscuidades do humano-monstro, a notícia deixa pasmado.

 

O móvel que o imbecil ou amoral – o que será pior?- lida, para considerar Suzane uma ‘celebridade’ não é o homicídio. Suzane não é chamada para selfie – esse horror-decadência da vaidade fotográfica – ‘porque’ é assassina. Não, a coisa é muito mais fútil.

 

O que move as criaturas dessas cidades do interior de São Paulo citadas à vontade de uma foto com a moça, ou um ‘autógrafo’ seu é a mera subexistência televisa dela. Ainda que totalmente atrelada ao homicídio infame dos próprios pais. Ou um tacanhice-jeca – totalmente improvável em épocas de informação democrática- de não saber quem é Suzane e ‘confundi-la’ (…) com uma artista de tv, ou essas gostosonas errantes modelo-manequins que se veem por aí.

 

Há uma horda de aderidos a ‘celebridades’, sejam lá quem for. Comunidades carentes já endeusam os Beiramares da vida. Há uma idolatria com o traficante muito bem explicada no espetacular curta metragem Notícias de uma guerra particular. Mas com uma moça que tramou a matança dos pais? Péra aí.

 

Confesso que controlo o moralismo portátil com o questionamento. Tento não exemplarizar ‘muito’ a questão e enxergá-la com algum olhar antropológico. Mas será o próprio estudo humano das gentes e das culturas que me advertirá: filhos não matam pais!

 

‘Se’ o filósofo está certo quando diz que ‘o monstro somos nós’, humanos, e se precisasse de um exemplo, essa moça seria um perfil clássico. Ela, Hitler e outros por aí.

 

Como pessoa que está pagando sua pena judicial, não é Suzane que deve ser julgada aqui neste artigo. A lei lhe garante, após o cumprimento da pena, o restabelecimento normal dos direitos e sua ex-vida infeliz e trágica, aquela do assassinato, estima-se, será seu fardo eterno, até o último dia de vida.

 

Mas é de surpreender, como mocinhas e mocinhos dessas cidades, se arvoram a querer, desejar a entronização de uma jovem que tramou a morte de ambos os pais.

 

Talvez não haja exemplo mais ácido – e triste – da crise ética e de falta de educação, de valores, mas sobretudo de percepção de juízo, conceitos basilares de certo e errado, que parece assolar pessoas.

 

Com aquele arremedo de cabeça pretensamente transgressiva citada acima, já até mudo minha visão em relação à moça e sua desgraça portátil, seu inferno a ser vivido enquanto viver.

 

Mas julgo. Cometo esta infâmia que todo mundo jura ser errado fazer, mas que todo mundo faz, julgar. Julgo francamente essa gente que quer surfar no celebritismo social, nessa espuma da fama masturbativa do selfie e nas costas de uma moça que só tem a oferecer tristeza, desgraça, absurdidade e coisas que não servem de qualquer exemplo ao pior dos bandidos.

 

Por hora, só se tem a lamentar a correria dândi e infantiloide de quem quer uma selfie ou pede um autógrafo a esta Suzane.

 

Talvez um psicanalista dissesse que deixá-la em paz seria o melhor que esses ‘fãs’ poderiam fazer pela moça. Por outro lado, percebe-se que os tais ‘fãs’ não estão nem um pouquinho preocupados com sua idolatrada-do-dia. Seus próprios umbigos e sua sanha de se mostrar na internet é o objeto ególatra de sua existência.

 

Uma coisa ‘parece’ ser certa: Suzane von Richthofen de celebridade é o lado podre da sociedade. Ou apenas um deles.

 

Jean Menezes de Aguiar / OBSERVATÓRIO GERAL.

 

[Artigo republicado no jornal digital BRASIL 247]



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